Sophia de Mello Breyner Andersen
(...)
Era uma vez uma fada chamada Oriana. Era uma fada boa e era muito bonita. Vivia
livre, alegre e feliz dançando nos campos, nos montes, nos bosques, nos jardins
e nas praias.
Um dia a Rainha das Fadas chamou-a e disse-lhe:
- Oriana, vem comigo.
E voaram as duas por cima de planícies, lagos e montanhas. Até chegarem a um
país onde havia uma grande floresta.
- Oriana - disse a Rainha das Fadas -, entrego-te esta floresta. Todos os
homens, animais e plantas que aqui vivem, de hoje em diante, ficam à tua guarda.
Tu és a fada desta floresta. Promete-me que nunca a hás-de abandonar.
Oriana disse:
- Prometo.
E daí em diante, Oriana ficou a morar na floresta. De noite dormia dentro do
tronco de um carvalho. De manhã acordava muito cedo, acordava ainda antes das
flores e dos pássaros. O seu relógio era o primeiro raio de sol. Porque tinha
muito que fazer. Na floresta todos precisavam dela. Era ela que prevenia os
coelhos e os veados da chegada dos caçadores. Era ela que regava as flores com
orvalho. Era ela que tomava conta dos onze filhos do moleiro. Era ela que
libertava os pássaros que tinham caído nas ratoeiras.
À noite, quando todos dormiam, Oriana ia para os prados dançar com as outras
fadas. Ou então voava sozinha por cima da floresta e, abrindo as suas asas,
ficava parada, suspensa no ar entre a terra e o céu. À roda da floresta havia
campos e montanhas adormecidos e cheios de silêncio. Ao longe viam-se as luzes
de uma cidade debruçada sobre o seu rio. De dia e vista de perto a cidade era
escura, feia e triste. Mas à noite a cidade brilhava cheia de luzes verdes,
roxas, amarelas, azuis, vermelhas e lilases, como se nela houvesse uma festa.
Parecia feita de opalas, de rubis, de brilhantes, de esmeraldas e de safiras.
Passou um Verão, passou um Outono, passou um Inverno. E chegou a Primavera. E
certa manhã de Abril, Oriana acordou ainda mais cedo do que o costume. Mal o
primeiro raio de sol entrou na floresta, ela saiu de dentro do tronco do
carvalho onde dormia. Respirou fundo os perfumes da madrugada e fez uns passos
de dança. Depois penteou os cabelos com os dedos das mãos a fazerem de pente e
lavou a cara com orvalho.
-
Que
manhã tão bonita! - disse ela. - Nunca vi uma manhã tão azul, tão verde, tão
fresca e tão doirada.
E
foi
pela floresta fora dançando e dizendo bom-dia às coisas. Primeiro acordaram as
árvores, depois os galos, depois os pássaros, depois as flores, depois os
coelhos, depois os veados e as raposas. A seguir, começaram a acordar os homens.